Ao final da manhã, enquanto insaciáveis foliões iam saindo atarantadamente da discoteca Túnel, outros iam vagueando pela cidade e os militares da brigada de trânsito da GNR iam fazendo o seu trabalho de fiscalização na estrada, alguns forasteiros já circulavam no circuito do corso, solicitando informações relacionadas com a festa que aí iria ter início poucas horas depois, a qual, de resto, já se sentia no ar.
Canais televisivos iam fazendo as suas primeiras reportagens e diretos quando as batidas dos bombos anunciaram a festa que viria a começar ao início da tarde nas ruas do centro da cidade que se encheram de foliões de todas as idades, com destaque para as famílias que aproveitaram as boas condições climatéricas para a prática do ”carnavol”.
A partir dos carros alegóricos era jogado este desporto, com o tradicional "atiranço" de cocotes, serpentinas e confettis entre os milhares de foliões que tinham vindo a Torres Vedras saciar a sua fome de folia e, também, da boa fantasia para a qual o Carnaval de Torres transporta. Cavalinhos, grupos carnavalescos, grupos de percussão, cabeçudos e outros elementos que fazem parte da "fauna carnavalesca" torriense – este ano com uma boa representação da "fauna marinha" - compunham uma manifestação performativa espontânea que é singular no panorama nacional e internacional, convidando à interação, nem que fosse com uma máquina fotográfica ou um telemóvel a captar as imagens invariavelmente fotogénicas do Entrudo torriense.
Enquanto os órgãos de comunicação social e público folião em geral iam-se deleitando com os conteúdos de sátira político-social dos carros alegóricos do “Carnaval mais inteligente de Portugal”, carros espontâneos de grupos carnavalescos iam arrastando pequenas moles humanas atrás de si que se divertiam com a música frenética que ia saindo dos mesmos. Quem também não dava tréguas à folia era os grupos de mascarados, que depois de semanas a preparar os seus trajes carnavalescos iam espalhando alegria à sua volta, o que acontecia, de resto, incansavelmente desde sábado à noite.
A meio da tarde o Carnaval de Torres teve o prazer de receber a visita do embaixador de Israel, Raphael Gamzou, para além dos Reis do Carnaval terem atribuído decretos reais ao mestre da fotografia nacional Eduardo Gageiro que esteve por estes dias a fotografar o “Carnaval mais português de Portugal” (nomeando-o “Visconde da fotografia ambulante do Carnaval de Torres Vedras”), a Vítor Melícias (nomeando-o ”Bispo auxiliar do Carnaval de Torres Vedras") e a José Ramos (“Conde 5 estrelas Michelin da Rua Primeiro de Dezembro de Torres Vedras").
Ao cair da noite o inevitável Tocándar surgiu no corso arrastando, como é seu apanágio, uma pequena multidão atrás de si que dançava euforicamente os ritmos carnavalescos que emanavam desse “veículo da folia”. O corso chegou ao fim com a tradicional volta dos Reis do Carnaval ao respetivo percurso.
No término da folia desta Terça-feira de Carnaval os monarcas do Entrudo torriense atribuíram mais três decretos-reais, estes a Susana Félix (nomeando-a “Condessa do Samba da Matrafona do Carnaval de Torres Vedras"), a Catarina Avelino (“Condessa do Direito Real") e a Manuela Redondo (“Condessa do Beirão do Carnaval de Torres”).
Porque brincar também cansa, é agora hora dos foliões voltarem às suas casas e camas depois de cinco dias e quatro noites de muita animação.
Amanhã há Enterro do Entrudo, o qual terá lugar a partir da Praça da República até ao Tribunal, no qual o Rei será julgado pelo (des)governo da cidade durante os últimos dias…